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De carona, com nitro é recomendado em coluna do Correio do Povo
04/01/2011
Volante não é Viagra
Oscar Bessi Filho
Correio do Povo
Ano 116 Nº 92 - Porto Alegre, domingo, 2 de janeiro de 2011
Verão. Entramos definitivamente no período de férias. Pelo menos para quem pode, que nem todo mundo é parlamentar ou estudante. Mas é notório. Até o carnaval, o país dá uma freada. Ou acelerada. Depende de quem pega a freeway. Aí, aliás, é que está o problema. Ou um dos problemas. A velocidade. A pressa. A cada feriadão que passa, um número recorde de mortes surge no noticiário. Nestes intervalos de verão, então, nem se fala. Lembrei do cálculo de progressão lógica feito pelo professor no início do filme Tropa de Elite 2. Dá para comparar, mantendo as proporções. E, deste jeito, daqui a algum tempo quem sair de casa para pegar a estrada e sobreviver, ô, estará no lucro. Não dá mais. É muito excesso, irresponsabilidade e falta de consciência. Nas estradas que levam às praias é um festival de aventuras, exibicionismos e abusos. Como se o mar estivesse em fuga. Não, ele não sai do lugar. E uma hora a menos na areia não justifica uma vida inteira fora. Um problema. Nem um exército de policiais rodoviários resolve. O problema é educação. Ética. Responsabilidade. E outros atributos, teoricamente tão normais aos seres humanos, ditos racionais, que andam escassos por aí.
Neste verão, aproveitarei a coluna para, além dos assuntos normais de segurança, indicar boas leituras. Ler sempre é bom, faz o sujeito crescer. Ainda mais na praia, aproveitando a brisa e o balanço da rede para refrigerar a mente. Amanhã, abriremos o Correio do Povo e toparemos com mais notícias trágicas normais de um primeiro dia útil de ano-novo. Assim, um livro ideal para refletir sobre isto é o do meu amigo e mestre Luis Dill. De Carona com Nitro, da editora Artes e Ofícios. A história de jovens que vão para uma balada e, de repente, a noite não termina nada bem. Os sonhos, os planos, os amores. Puf. Fatal como a vida. Como se decidir por uma atitude insensata que parece banal, apenas mais um momento, mas se torna definitivo. Dolorosamente imutável. Recomendo a obra para pais e adolescentes. Jovens e veteranos que precisam estar atentos ao que ocorre a sua volta. Os caminhos promissores que, do nada, se interrompem por um gesto mal calculado. Uma aventura sem sentido. Um exibicionismo barato. Vale a pena ler, pensar, dar uma boa lida no material que há no final do livro, para consulta. Lembrar do que soube, e sentiu, e tirar o pé. Homens e máquinas têm uma relação complicada. E volante não é divã. Muito menos viagra. Impotências – e incompetências - não se resolvem no ronco de um motor. Então, calma. Nada de pressa. Fazer festa é bom, saudável, mas tudo tem limite. Dá para extravasar numa boa, podem acreditar. E, aí, tirar realmente umas belas férias.